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terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Entrevista com Romualdo Costa, Ex-interno da Unis/ES

Entrevista realizada pela agência de notícias Primeira Hora com Romualdo Costa (conhecido como Neguinho Brizola) ex-interno da Unidade de Internação Socioeducativa (Unis) do estado do Espírito Santo.

Sua história é uma exceção?
Fui um dos adolescentes mais complicados que já passaram pela Unis. Era agressivo e revoltado porque, ao contrário dos demais colegas, não recebia visitas, não tinha família. Muitos diziam que o meu futuro era cadeia ou caixão. Hoje sou casado, tenho uma linda filha e ajudo a mudar a vida de outros adolescentes. É por isso que afirmo, com convicção: se eu não acreditar que eles podem mudar, é como se eu não acreditasse em minha própria história. Mas não sou o único. Há muitas histórias de transformação.

Por que alguns adolescentes não abandonam o crime?
Toda pessoa, mesmo cometendo crimes, sempre pensa no seu futuro, em transformações. O problema é não conseguir manter essa visão de mudança. Isso acontece porque o adolescente infrator alimenta um preconceito, o de que não vão acreditar ou apostar nele, e por isso não procura ajuda.

Falta apoio da família?

Muitos deixam os filhos sozinhos em casa, vão trabalhar  confiando que eles vão à escola, mas os adolescentes seguem para a rua. Lá vão ter contato com o crime, que conhece os jovens melhor do que os pais. É com o tráfico que vão aprender os valores que deveriam ser ensinados pela família. Muitos pais também desistem dos filhos quando percebem problema. É comum dizerem: ?Esse não tem mais jeito?. Quem ouve isso da família, desiste da vida.

O que aconteceu com Diego Santos de Souza, Neguinho da 12 - acusado de matar 12 e que foi morto no fim do ano passado aos 18 anos -, e com o Leonardo Damasceno, Leozinho?
Quando estavam internados na Unis me relataram o desejo de transformar suas vidas, mas temiam a vingança dos amigos de suas vítimas. Foi por receio de abandonar as armas e morrer que acabaram não mudando.

Como é o seu trabalho?
Estamos iniciando uma nova proposta, que é de escuta, diagnóstico e intervenção, junto aos adolescentes. A intenção é saber o que trouxe os jovens à Unis, por que não conseguem cumprir suas medidas socioeducativas e fogem, como podem ser ajudados. A proposta é, a partir das informações, com técnicos da instituição, promover intervenções para reverter a situação dos jovens.

Com você o acesso a eles é mais fácil?
É uma questão de vínculo. Tenho uma história na instituição que serve de ponte aos adolescentes, que me dá acesso a todos os módulos. Conto minhas experiências, mostro o lado negativo e o positivo de estar na Unis, a oportunidade de receberem a educação que nunca tiveram, de pensar no futuro e de agirem de forma diferente.

O mesmo trabalho também é feito com professores?
Tento mostrar aos profissionais que vão lidar com adolescentes que cometeram atos infracionais, que mataram, que eles também são jovens que sabem amar, compreender o que está sendo dito a eles, que não agridem. Mostro que se fizerem o seu trabalho e perseverarem, vão ser bem sucedidos e mudar a vida de muitos adolescentes.

Quando sua situação começou a mudar?

Ao sair da Unis, em dezembro de 2005, já tinha proposta de mudança. Foi quando conheci a Jaqueline, que hoje é minha esposa, o que reforçou o desejo. Procurei ajuda em um centro de recuperação, na Serra, e abandonei as drogas sem nenhum remédio.

Do que precisou?

Da mesma disposição que me permitia entrar armado em um estabelecimento para assaltar. Sempre digo aos adolescentes que a boca de fumo em que eu traficava continua no mesmo lugar, assim como o boteco, os amigos, a família, como uma herança. Para mudar tive que me privar de tudo, sair sem dar satisfação, com a roupa do corpo.

Como tem sido trabalhar na Unis?
Uma grande experiência. Trabalho com  pessoas que no passado foram meus reféns, pessoas em quem eu não acreditava. Hoje tenho a oportunidade de mostrar aos adolescentes infratores que quando deixarem a Unis seu nome vai estar limpo, que podem fazer qualquer concurso, trabalhar onde desejar. Podem mudar de vida.

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